06 de dezembro de 2024
08 de janeiro de 2018
O homem é do tamanho do seu sonho
No auge de sua sabedoria, o poeta e escritor português Fernando Pessoa proferiu um pensamento extremamente simples, mas profundamente reflexivo, que diz: “o homem é do tamanho do seu sonho”. A fábula dos pescadores descreve isto com tamanha propriedade que é difícil não se perguntar: Quem está certo, o executivo ou o pescador?
“Um executivo, em período de férias no litoral, observava um pescador sobre uma pedra fisgando alguns peixes com equipamentos bastante rudimentares, como linha de mão, anzol simples, chumbo e iscas naturais. O executivo chegou perto e disse: “Bom dia, meu amigo, posso sentar ao seu lado e observar?” O pescador respondeu-lhe: “Tudo bem, doutor”. O executivo indagou-lhe: “ Poderia lhe dar uma sugestão sobre a pesca?” “ Como assim?”, retrucou o pescador.
“Se você me permite, eu não sou pescador, mas sou executivo de uma multinacional muito famosa e meu trabalho é melhorar a eficiência da fábrica, otimizando recursos, reduzindo preços, enfim, melhorando a qualidade dos nossos produtos. Sou um expert nessa área e fiz vários cursos no exterior sobre isto”, explicou o executivo, entusiasmado com sua profissão. “Pois não, doutor, o que o senhor quer sugerir?”, perguntou calmamente o pescador.
“Olha, estive observando o que você faz. Você poderia ganhar dinheiro com isso. Vamos pensar juntos. Se você pudesse comprar uma vara de pescar com molinete, poderia arremessar sua isca para mais longe, assim pescaria peixes maiores, certo? Depois disso, você poderia treinar seu filho para fazer este trabalho para você. Quando ele se sentisse preparado, você poderia comprar um barco motorizado com uma boa rede para pescar uma quantidade maior e ainda vender para as cooperativas existentes nos grandes centros. Depois, você poderia comprar um caminhão para transportar os peixes diretamente, sem os intermediários, reduzindo sensivelmente o preço para o usuário final e aumentando também a sua margem de lucro. Além disso, você poderia ir para um grande centro para distribuir melhor o seu produto para os grandes supermercados e peixarias. Já pensou no dinheiro que poderia ganhar? Aí, você poderia vir para cá, como eu vim, descansar e curtir essa paz, este silêncio da praia, esta brisa gostosa”. “Mas isso eu já tenho hoje!”, sentenciou o pescador.
Pois bem. Resolvi fazer esta reflexão para me redimir de um comportamento que tenho tido nos últimos tempos e que, na minha visão atual, não foi elegante, pois tenho insistentemente tentado transformar meus colegas do varejo farmacêutico em empreendedores. Tenho cobrado um comportamento mais agressivo na comercialização, tenho dito que a única maneira de competir é crescendo, mas quando fazemos uma análise do mercado de maneira mais profunda, a afirmação de necessidade de mudança concorrencial não é de todo verdadeira.
Continuo acreditando que a melhor maneira de competir e de crescer é tendo agressividade comercial. Continuo acreditando que os empresários que queiram prosperar têm de estar alinhados às táticas das grandes corporações. Continuo acreditando em tudo que tenho defendido nos últimos tempos, mas hoje sou consciente de que existem pessoas que preferem continuar apenas vivendo do seu negócio. São pessoas que não querem crescer, não têm ambições maiores e não farão nada para tornarem-se diferentes; e isso não quer dizer que suas empresas deixarão de existir, pois isto não ocorrerá. É possível, sim, ser como o pescador da fábula, que não se preocupa em quantos peixes será capaz de pescar, se apenas um é o suficiente para saciar sua fome.
Edison Tamascia é empresário do setor farmacêutico há 35 anos, presidente da Febrafar, da Farmarcas e da rede Super Popular, membro efetivo da Câmara Brasileira de Produtos Farmacêuticos (CBFARMA), da CNC (Confederação Nacional do Comércio)